Notícias Política Em gravação, Romero Jucá sugere “parar” Lava Jato Por No Amazonas é Assim Publicado em 23 de maio de 2016 5 min - tempo de leitura 4 Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe no Pinterest Compartilhe no Linkedin O atual ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) sugeriu em conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma possível mudança no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” feita pela Operação Lava Jato que investiga ambos. As conversas aconteceram em março. Como divulgou a reportagem é do jornal Folha de S. Paulo desta segunda-feira (23/5). Em gravação, Romero Jucá sugere “parar” Lava Jato Os diálogos ocorreram semanas antes da votação pelo impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados e foram gravadas de forma oculta. O áudio tem mais de uma hora duração e estão em posse da Procuradoria Geral da República (PGR). Jucá deve seu nome citado em delação premiada do dona da UTC, Ricardo Pessoa. Desde então, Jucá é alvo de inquérito no STF por suposto recebimento de propina. Confira o conteúdo das conversas: SÉRGIO MACHADO – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima. ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais? MACHADO – Agora, ele acordou a militância do PT. JUCÁ – Sim. MACHADO – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda. JUCÁ – Eu acho que… MACHADO – Tem que ter um impeachment. JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem saída. MACHADO – E quem segurar, segura. JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente. MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar. JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer. MACHADO – Odebrecht vai fazer. JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer. MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. […] JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. […] MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]. JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra. MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. JUCÁ – Com o Supremo, com tudo. MACHADO – Com tudo, aí parava tudo. JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto. […] MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não. JUCÁ – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem. * Publicidade MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado… JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com… MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já. JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador]. MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu? JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido. […] MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio. JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão… MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência. JUCÁ – Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar. MACHADO – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo. JUCÁ – Não, o tempo é emergencial. MACHADO – É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês. JUCÁ – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar. MACHADO – Acha que não pode ter reunião a três? JUCÁ – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você. MACHADO – Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande. * MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma… JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não. MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB… JUCÁ – É, a gente viveu tudo. * JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar. MACHADO – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato] JUCÁ – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento… MACHADO -…E burro […] Tem que ter uma paz, um… JUCÁ – Eu acho que tem que ter um pacto. Publicidade […] MACHADO – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém. JUCÁ – Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].